“Sempre quis ter asas
e desejei voar, mas, tudo o que me restou foi o desejo de possuir um lindo par
de longas e coloridas asas. Sempre quis sair e realmente mostrar-me ao mundo,
porém, a cada novo dia, prefiro ser fria comigo e me poupar das palavras
incompreensíveis de outras pessoas. - Minhas asas seriam até os pés, cobririam
minhas costas, e teriam penas leves. Imagino-me como sou; e não me orgulho
tanto como se orgulham de mim; imagino-me de verdade e sinto prazer de ser
como sou, por dentro. Apenas lá!”
Eram três horas
da tarde e Azura já estava pensando aquelas mesmas coisas de sempre, no
precipício. O mesmo lugar, com barro vermelho, capim escasso, cactos de
variados tamanhos, num clima árido. Tudo estava como sempre, exceto pela presença
de Semías – Uma sombra preta e alta de um homem de quase dois metros - que
conversava com Azura, como se, na verdade, não fosse um desconhecido: - Como um ser tão pequeno pode querer asas tão grandes? - Perguntou a sombra à estranha
criatura, - imaginando que grandes
asas seriam, de alguma forma, pesadas demais para aquele pequeno ser.
Azura, uma fêmea
pequena e de aparência frágil; nascida de um amor de fada do campo e borboleta
do deserto. Seu cabelo era da cor do barro, e seus olhos, da cor dos cactos do
deserto.
“Tais grandes asas não seriam tão grandes e,
nem mesmo tão pesadas, se comparadas ao fardo que carrego.” – Respondeu Azura à
sombra, parecendo ler seus pensamentos.
Aos poucos, Semias foi tomando forma na mente de Azura, -
“Preciso de um par de asas - pensava ela – mas como isso será possível? Então, Semías, a sombra, sugere simplesmente e aparentemente desinteressado: “Por que você
não faz asas para si. Como Icaro”? “Icaro?” - pergunta Azura: “Quem é Icaro?”
Responde-lhe Semias, “Icaro era alguém que queria voar até o Sol. Ele fez para
si asas de cera com penas, um belo par de grandes asas, e, até conseguiu voar,
mas não conquistou o seu sonho; quanto mais se aproximava do Sol, mas a cera
das asas ía derretendo; caiu no mar e morreu.”.
O final da história
pareceu não encorajar Azura, que, mais uma vez, manteve seus olhos verdes
fixados no precipício como se procurasse resposta.