terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O desejo de Azura


“Sempre quis ter asas e desejei voar, mas, tudo o que me restou foi o desejo de possuir um lindo par de longas e coloridas asas. Sempre quis sair e realmente mostrar-me ao mundo, porém, a cada novo dia, prefiro ser fria comigo e me poupar das palavras incompreensíveis de outras pessoas. - Minhas asas seriam até os pés, cobririam minhas costas, e teriam penas leves. Imagino-me como sou; e não me orgulho tanto como se orgulham de mim; imagino-me de verdade e sinto prazer de ser como sou, por dentro. Apenas lá!”
 Eram três horas da tarde e Azura já estava pensando aquelas mesmas coisas de sempre, no precipício. O mesmo lugar, com barro vermelho, capim escasso, cactos de variados tamanhos, num clima árido. Tudo estava como sempre, exceto pela presença de Semías – Uma sombra preta e alta de um homem de quase dois metros - que conversava com Azura, como se, na verdade, não fosse um desconhecido: - Como um ser tão pequeno pode querer asas tão grandes?  - Perguntou a sombra à estranha criatura, - imaginando que  grandes asas seriam, de alguma forma, pesadas demais para aquele pequeno ser.
Azura, uma fêmea pequena e de aparência frágil; nascida de um amor de fada do campo e borboleta do deserto. Seu cabelo era da cor do barro, e seus olhos, da cor dos cactos do deserto.
Tais grandes asas não seriam tão grandes e, nem mesmo tão pesadas, se comparadas ao fardo que carrego.” – Respondeu Azura à sombra, parecendo ler seus pensamentos.
 Aos poucos, Semias foi tomando forma na mente de Azura, - “Preciso de um par de asas - pensava ela – mas como isso será possível? Então, Semías, a sombra, sugere simplesmente e aparentemente desinteressado: “Por que você não faz asas para si. Como Icaro”?  “Icaro?”  - pergunta Azura: “Quem é Icaro?” Responde-lhe Semias, “Icaro era alguém que queria voar até o Sol. Ele fez para si asas de cera com penas, um belo par de grandes asas, e, até conseguiu voar, mas não conquistou o seu sonho; quanto mais se aproximava do Sol, mas a cera das asas ía derretendo; caiu no mar e morreu.”.
O final da história pareceu não encorajar Azura, que, mais uma vez, manteve seus olhos verdes fixados no precipício como se procurasse resposta.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sereia com medo do escuro


Uma sereia que não sabe cantar
Penteia os cabelos medianos ondulados e cheios de encanto
Nem sequer sabe nadar
Tem medo do mar
Tem medo do escuro
Mas gosta da lua

Mexe no cabelo enquanto vê a onda bater
Se alguém tenta alcançá-la ela some
E vai para cada vez mais longe

Está sempre distante
Não vá pela aparência
Sua boca pequena
Guarda grandes segredos das águas vividas

domingo, 29 de janeiro de 2012

Peter Pan - A sombra e a fulga


[...] _ Wendy, qualquer menina vale mais do que vinte meninos.
  Ela se sentiu inteiramente outra, espichando um pouco a cabecinha para fora.
_ Você acha isso verdade, Peter?
_ Acho isso verdade!
_ É muita bondade sua. Vou me levantar outra vez.
  Wendy sentou-se ao lado dele e chegou a dizer que daria um beijo nele, isto é, se ele quisesse.
   Peter Pan não sabia o que era beijo... e estendeu a mão, como quem espera um presente.
_ Acho que você não sabe o que é um beijo, sabe? – ela perguntou desapontada.
_ Só vou saber depois que você me der um. – respondeu ele prontamente.
 Para que ele não ficasse também desapontado, Wendy deu-lhe um dedal.
_ Bem – disse ele – e agora eu lhe dou também um beijo?
_ À vontade – respondeu Wendy, inclinado o rosto para ele.
Peter Pan fez apenas isso: colocou um botão na mão dela.
_ Vou usar o seu beijo no meu colar – disse Wendy, mostrando delicadeza de sentimentos. [...]

Livro: Peter Pan – James Barrie

sábado, 28 de janeiro de 2012

Cezar Dias

Alguns paradoxos
 Assim como encontramos em cada mentira um pouco de verdade e em cada pecado um resquício de pureza, não é raro encontrarmos na feiura algo que nos pareça belo. [...]

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Cezar Dias


Gestos   

 O menor dos gestos que fazemos pode influenciar no andamento do universo. E não falo somente de gesto humanitários, como dar carinho a uma criança, comida a um faminto ou teto a um desabrigado. Falo de qualquer gesto, o mais banal. Quem afasta, por exemplo, uma mecha de cabelos caída sobre os olhos pode arrebatar um coração, deixar quem está indo a rumo certo sem norte e sem sul. [...]

Livro: Tubarão com a faca nas costas - crônicas

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

laço folgado

 Hoje é meu dia de folga
De folgar o laço da calça 

faltar à realidade
fugir pro meu mundo folgado
E por lá me perder
Mas
Só por hoje

domingo, 15 de janeiro de 2012

Miau

Dessa vez farei diferente. Não falarei nada, nem uma emoção sequer.
Ficarei a espreita, fazendo tudo por debaixo dos cachos e de rabo em pé.
Miau...não adianta dizer, parece que isso atrasa mais os acontecimentos. Atrasa e as vezes impede-o de acontecer.